Um certo Emílio Sessa
Susana
Gastal
Coordenadora Editorial
Quem
é Emílio Sessa?
Foi
essa a pergunta mais ouvida por nós, ao longo dos oito meses em que o projeto
do livro, que você agora tem em mãos, foi desenvolvido. Apesar de ter sido
parceiro de Aldo Locatelli em muitos trabalhos, entre 1948 e 1965, período em
que trabalhou no Brasil, a figura de Sessa foi ofuscada pelo brilho de seu
companheiro nas lides artísticas. Talvez por mais tímido, talvez por menos
disponível para as lides da vida social, talvez por seu retorno prematuro para
a Itália, a figura de Sessa ficaria relegada por várias décadas.
Enquanto
o ostracismo cobria de silencio o criador, a criação perfilava-se exuberante diante
dos olhares mais atentos, embelezando os espaços internos das catedrais de
Pelotas e Santa Maria, do Palácio Piratini, sede do governo de Estado, e de
muitos outros espaços pelo Rio Grande do Sul. Nelas, florões, guirlandas, pinturas
fingidas, dentre outros elementos pictóricos, materializam o sagrado e o
profano, dando-lhes cor, brilho e vida.
Mas,
quem é Emílio Sessa?
Atento,
arguto, olho treinado pelas e para a beleza da arte presente em fachadas e
interiores, Arnoldo Dorberstein foi o primeiro a
se inquietar com a
pergunta e a buscar resposta. É dele o texto “A trajetória e a formação europeia”,
em que nos apresenta o
ambiente artístico na cidade de Bérgamo, onde o artista foi formado: filho de Annibale
Sessa, pintor conhecido no local, seguir a profissão do pai foi decorrência
natural. O que não impediu a que fosse estudar nas melhores oficinas, com os
mestres mais qualificados.
Mas,
feito artista numa terra reconhecida por honrar à arte e aos artistas, por que
viria para o Brasil? Maria Helena
R. Montardo e Nilo Sérgio V. Montardo nos descrevem o cenário que
motivou a mudança: uma Europa exaurida pela guerra, de um lado, e, aqui, um
país em um bom momento econômico e em condições de contratar artistas no Velho Continente.
Trazido
ao Rio Grande do Sul pela mão do bispo de Pelotas, D. Antônio Zattera, e com as
bênçãos de Angelo Roncalli, que tempos depois viria a ser o Papa João XXIII, um
trabalho puxou o outro. E Sessa vai de Pelotas a Porto alegre, de Santa Maria a
Santo Ângelo. Por onde passa os espaços ganham dimensões inesperadas, como relatam
Eliane Silva, Anna Paula Boneberg N. dos Santos e Maria Regina Lisbôa. Do filho, Franco Sessa,
vem o depoimento comovido, a partir da intimidade com o pai pintor.
A
Cronologia do artista coloca-se aqui, não como um segmento acessório, mas como
um capítulo em si e de fundamental importância. Primeiro, porque a linha de
tempo, costurando os dados dispersos nas falas dos diferentes autores, traça um
amplo painel cronológico e imagético, do percurso de vida e de arte de Emílio
Sessa. Segundo, porque a proposta editorial do Instituto Cultural Emílio Sessa,
responsável por essa edição, envolve pelo menos mais dois volumes em torno da
produção do artista e, enquanto eles não chegam, a Cronologia permitirá ao
leitor uma visão completa da trajetória do artista.
Os
textos que compõe esse livro estão cheios de paixão e pressa. Paixão porque,
uma vez em intimidade com a arte de Sessa, é impossível ficar imune ao fascínio
que a mesma exerce. Pressa, porque é necessário resgatar a dívida histórica que
temos para com ele.
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