PERCURSOS DE ROBERTA
Por Susana Gastal
A sala de aula é, com
certeza, um espaço privilegiados de criatividade e de produção, em especial no
terceiro grau, por ainda desvinculado das pressões mais sérias do mercado. Ali
está, em ato, o que a vida adulta e profissional nem sempre irá permitir no futuro
dos, agora, alunos: liberdade para o livre pensar e para o livre fazer.
Há alunos que veem essa
oportunidade ímpar e se entregam a ela com todo prazer. E há aqueles que veem tal
espaço como de precariedades e até mesmo como de não vida, no sentido de que a vida seria aquilo que aconteceria lá
fora, quando e onde não houver tarefas acadêmicas a cumprir. Que ledo engano...
Roberta, com certeza, se
enquadra no primeiro grupo. Desde as primeiras aulas, ainda no início do curso
de Turismo, ela se destacava pela seriedade e meticulosidade com que se
dedicava a todas as tarefas da rotina acadêmica, nos seus pequenos ou grandes
desafios. Mais do que isso, ela sempre surpreendia.
Lembro especialmente de um
trabalho sobre os lugares de memória em Porto Alegre e sua interpretação
patrimonial, na disciplina de Turismo e Cultura, em que a proposta era a de
olhar a cidade e suas memórias sobre novas perspectivas. Roberta e seu grupo
fizeram uma bela proposta para ressaltar o Mercado Público Central do início do
século XX. O trabalho, além de criativo na sua concepção, vinha acompanhado de
soluções visuais para ilustrar o projeto, no mínimo inusitada na sua qualidade.
Não foi de outra maneira no
seu trabalho de conclusão de curso, que tive o privilégio de orientar. A proposta de Roberta era a de estudar a
presença-ausência dos negros e de suas expressões culturais em Porto Alegre. O
tema já seria, em si, um grande desafio, visto que os apagamentos da presença
física e cultural da etnia são muito maiores do que as suas marcas
memorialísticas no território.
Vencido o primeiro obstáculo
e resolvido que ela iria, sim, empenhar-se em um trabalho quase arqueológico de
recuperação de fragmentos, defrontávamo-nos com o segundo desafio, envolvendo
as possibilidades de roteirizar turisticamente marcas tão débeis. Seria necessário reunir pequenos sinais,
indícios delicados aqui e ali, escondidos nas reentrâncias da cidade, que
dessem organicidade não só a uma proposta de Turismo, mas também, que
encaminhassem para a visibilidade cultural pretendida.
Roberta saiu-se bem nos dois
momentos, que agora poderão ser acompanhados nas páginas do livro que está em
suas mãos.
O sucesso do percurso
acadêmico da pesquisa por ela efetuada trouxe, ainda, outros dividendos importantes, como mostrar
que a sala de aula é esse espaço privilegiado. Um laboratório para experiências
inusitadas e inovadoras. Outro dividendo foi o de atestar que o Turismo e os
profissionais que a ele se dedicam, é muito mais do que apenas gestão ou cifras
econômicas, nos seus aportes sociais e culturais. Claro, desde que a pessoa por
trás da figura do aluno, agora profissional, seja ela mesma inusitada e
inovadora. Como o é a Roberta.